segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Não existe Divino. O nome é Madureira.

17-11-2012. Estádio Aniceto Moscoso.

Já comentei com alguns colegas meus, que meu trabalho de conclusão de curso na faculdade terá como tema a história da formação do Madureira Esporte Clube. Era até um tanto vergonhoso o fato de eu nunca ter visitado a agremiação, e o estádio da rua Conselheiro Galvão. Acabei por conhecer o local na torcida de um time adversário, o Bangu, incentivado pelo amigo da Frente Nacional dos Torcedores, Alexandre(cuja bela tatuagem do alvi-rubro de Moça Bonita pode ser visto abaixo).




Como é quase uma tradição, acordei tarde e não acompanhei o trajeto da torcida ao jogo. Fica para oura oportunidade. Vi que o horário estava muito adiantado (praticamente acordei no horário combinado em Bangu), e preferi ir direto à Madureira. E fui brindado com um pouco mais dessas maravilhas de espontaneidade que só os trens do Rio de Janeiro, em despeito da baixíssima qualidade do serviço da Supervia, podem nos oferecer. Na Central, junto comigo, entraram três homens que claramente não eram brasileiros. Eles portavam instrumentos, e logo que começaram a tocar, vimos que se tratava de mais um grupo de músicos peruanos, vendendo seus cds. Também naquela estação, entrou um grupo de jovens, indo aparentemente para alguma festa, se considerar as roupas que vestiam. E entre os dois grupos, ocorreu uma coisa que dificilmente se verá em outra cidade: uma jam entre dois países, de uma maneira totalmente popular e muito descontraída. Claro que o pessoal cantava brincando com os peruanos. Mas meu pai, baterista, sempre me dizia quando novo: "não existe brincadeira melhor que a de música". Dentre músicas gospel e fusions entre ritmos indígenas e pagodes e funks cariocas famosos, o que reinou mesmo foi a alegria suburbana. Apenas pude ver uma garota, cujas vestimentas a deslocavam completamente do cenário, colocando a mão na cabeça e mostrando-se irritada durante o processo. Mas mesmo o namorado dela, vestido igualmente de forma pouco habitual para o espaço, gostou do ambiente, tanto é que comprou o cd vendido pelos peruanos. Aliás, muitos compraram. Aparentemente, a "união Brasil e Peru", gritada por um dos garotos que ajudara no coro, deu certo.




O bairro de Madureira também me apresentou um clima muito acolhedor. Claro, acolhedor do meu ponto de vista carioca. É um lugar barulhento e repleto de pessoas, e que não é o primor dos asseios. Mas desde o primeiro momento sorri, ao ouvir o anúncio do churrasquinho da passarela sob a estação de trem. Era gravada, com imitações de famosos como Roberto Carlos e Paulo Henrique Amorim. Até desliguei o som que ouvia no celular, para ouvir a rua, com seus anúncios em caixas de som, tão altos que a qualidade se estourava completamente. Havia experimentado esta sensação apenas no SAARA, mais ao centro da cidade. Ambos os lugares eu gostei.




Os Orixás protegem o Mercadão de Madureira, e dão mais vida ao local.
De atrasado passei a adiantado. Andei pelo Mercadão de Madureira. Destaco neste momento apenas duas características (mas que em outro momento podem facilmente render mais linhas). Primeiro, é a grande miscelânia de lojas. Por um corredor, pude ver uma sequência de lojas de produtos para cultos afro-brasileiros e aviários, intercalados. Eram galinhas, exus-caveiras, patos e chapéus panamás(desses últimos gostaria de ter um exemplar num  futuro próximo), todos ali, juntos. O outro ponto, esse negativo, foi o de eu não ver uma camisa sequer do time de futebol no mercado que o patrocina. Só achei uma, durante todo o trajeto até o clube, em uma banca. E claro, dentro do próprio(também uma loja com muitas falhas no mostruário e estoque).
Portela de um lado, Madureira de outro.




Dentro do estádio, confesso que fiquei um pouco decepcionado. Claro, gostei muito de ver um estádio com grades e sem fosso, no qual os torcedores podiam vociferar qualquer coisa para juízes e atletas. Mas foi triste ver cadeiras onde apenas deveria haver cimento nas cores vermelha, azul e amarela (três cores que por sinal são extremamente recorrentes nesta região do bairro, assim como o carinho dos moradores para com o clube local). Mas era um local muito agradável, pra quem gosta do bom e velho futebol como deve ser feito. Lamentei também a pouca presença da torcida do tricolor suburbano, em um jogo tão decisivo. A torcida do Bangu, por sua parte, apresentou bom público (mas que também acredito que deveria ser maior, levando em consideração o seu tamanho), algo entre de 150 e 200 apaixonados.

Aqui, ainda com menos presentes, antes do início da partida.


O jogo foi emocionante. Por conta do primeiro jogo ter sido um empate, o jogo seria decidido com qualquer vitória simples, e outro empate, por qualquer placar, os levaria aos pênaltis. Prefiro assim, ao modelo que pretendem implantar no campeonato carioca de 2013, com o time de melhor campanha passando à final, sem disputas de pênaltis caso não ocorram empate nas  campanhas. E esta beleza de ocasião foi o destino da partida. Após um jogo repleto de reviravoltas, o Bangu abriu o placar e o ampliou, mas assistiu o Madureira igualar o placar com tremenda apatia no segundo tempo da partida. A quinze minutos do fim, no entanto, o que vi foi um jogo digno de uma disputa de mata-mata. Bolas de extremo perigo em ambas as metas, com leve vantagem para as do visitante, que esquentaram, tal qual o forte sol que despontava dentre as escuras nuvens de chuva, o sangue dos presentes para a decisão nos tiros livres.



Aqui cabe a nota mais trágica do evento. Alguns banguenses tentaram acender pirotecnia, e foram reprimidos pela Polícia Militar, que ameçou até detenção. Tudo por causa de fogos mais que inofensivos, e ao meu ver de pouca graça (sou fã da pirotecnia que enfumaça toda a arquibancada e bordas do campo). Por sorte, por meio de alguma conversa, os torcedores que tanto cantaram durante o tempo regulamentar, puderam ver o Bangu ganhar a partida, em um derradeiro pênalti após um chute no travessão dado por um jogador de Madureira. Pobre Lamartine Babo, não imaginaria que ao escrever "estouram foguetes no ar" no hino oficial daquele clube, seria reprimido em pleno século XXI.

Rostos cobertos apenas por precaução, já que pode se esperar de tudo do nosso estado...
Polícia levando os periculosos meliantes



Cabe um pequeno destaque também para o camisa 4 do Bangu, um zagueiro "raçudo pra caralho", nas palavras do camarada que me apresentava a torcida. Mesmo saindo machucado, foi extremamente presente durante a preparação para os pênaltis, dando força ao elenco e muita atenção e apoio (em reciprocidade e retribuição) à torcida. Outro jogador se machucou, esse de forma tanto bizarra quanto dramática: chutando a bola pro gol em um dos pênaltis convertidos pelos visitantes. Saiu em sua maca, com o nome gritado.

Momentos agradáveis. Pretendo repetir mais vezes.

Abaixo, algumas fotos do estádio, uma sugestão de outro amigo da FNT, o curitibano Fernando, do Kuay Floy, após algumas garrafas de cerveja.





O bairro no fim de tarde. Não é o horário de pico.

Em vários cantos do bairro é possível notar a combinação de cores do Madureira.

Um pouco mais ao fundo está o Mercadão de Madureira. Esqueci de registrar uma imagem do mesmo. Aqui, uma animada banda faz a promoção de uma loja.

Pipoqueiro em frente ao clube. Ele também colocou adesivos de um clube grande do Rio, que preferi omitir.

Achei os ingressos um tanto caros. Por mim seria 10 reais a inteira.




O Madureira é um clube popular, e oferece serviços mais simples, para atender o que a população local pede. 

Algumas camisas antigas decoram o letreiro da loja oficial.



Mais uma amostra da ligação entre bairro e clube. Foi em função dos comerciantes do Mercadão de Madureira que o clube se originou.

Embora em menor número, a torcida local também compareceu.
Não apenas as equipes de maior investimento tem redes personalizadas. 


As cadeiras vieram do falecido Maraca. Presente de grego.
           









Arma de destruição em massa



Nessa altura, a maior parte dos torcedores já se encontrava atrás dos gols.





















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