sábado, 7 de abril de 2012

Torcendo de Muletas

Quebrei a perna dia 21 de outubro do ano passado, e desde então tenho penado bastante para ir à jogos de futebol. E, apesar de agora estar mais tranquilo no andar de muletas, o princípio foi bastante complicado. Abaixo, o texto que escrevi sobre esta experiência:



24-2-2012.Estádio Olímpico João Havelange.

Meus pés, o fixador da minha perna(lembra uma antena de tv) e as duas muletas. Como podem ver, quase não sobra espaço para movimentação. 


Finalmente me sinto suficientemente tranquilo, física e mentalmente, para descrever o que foi a minha experiência com as muletas no Engenhão.

Assim que cheguei ao estádio, achei que a coisa ia ser moleza. Cheguei pela entrada Oeste (aquela das estátuas), e pedi ajuda a um funcionário do clube. Engraçado, que na situação que me encontro, as pessoas se mostram mais prestativas. É uma pena que seja por compaixão, porque acredito que esse tipo de tratamento devesse rolar sempre.

Na hora da revista, o policial foi muito bacana comigo, "pela primeira vez na televisão". Ele nem quis ver a minha mochila, mesmo que ali estivessem ingredientes para o preparo de um coquetel molotov.

Aí então o funcionário me surgiu com uma cadeira de rodas. Não, no estádio não há elevador, ao menos não faz sentido que haja, já que tive que ser levado naquelas rampas íngremes. Me imagino descendo da Oeste Superior, voando mais que o Vin Diesel com seu carro à nitro...mas sem uma parada suave.

Quando entrei, porém, consegui chegar ao cúmulo, de passar a odiar ainda mais as cadeiras em estádio. Não havia caminho para passar. Eu batia a muleta nos lados, e tinha que virar o corpo em uma grande manobra, por conta daqueles corpos estranhos a um estádio de futebol. Quem me dera o Engenhão tivesse aquele cimentão do Maraca, cheio de espaço. Teria me deslocado numa facilidade extrema. Ou pelo menos que as cadeiras não tivessem a printura da Brahma, que as torna muito mais escorregadias e as impossibilita como apoio para as muletas.
 

No intervalo, nova decepção. Desci para me alimentar, pois andar de muleta me deixa faminto. Rampas e mais rampas. Falha minha, poderia ter usado as escadarias do setor Norte, que apesar de terem um valentão de braços cruzados em seu caminho a atrapalhar minha passagem, mostravam também inúmeros irmãos de bancada me dando uma ajuda tremenda.

Mas o pior não foi a grande descida de rampas. Foi chegar no meu destino e ver um sistema pra passar cartão inativo. Modernidade em que, só na hora de matar nosso prazer de ver um jogo a moda antiga?

Na volta, no entanto, algo me foi elucidado: um porque de as cadeiras estarem me atrapalhando. Tragicômico.

Um policial me apontou o setor de cadeirantes. Na concepção dele, seria muito melhor para mim assistir o jogo lá de trás, acima de tudo, num lugar reservado pra mim. Longe de torcida organizada, longe de bagunça, de bateria, de confusão. Longe dos gritos de raiva a cada passe errado, longe das comemorações a cada gol de minha equipe. Longe da vida no estádio.

Se eu quisesse essa inclusão exclusiva, eu assistiria sentado na porra do meu sofá! Cadeirante tem que ter mesmo espaço reservado. Reservado no meio da galera. Pra cantar com o coro. Pra ser levantado na hora do gol.

Voltei pro meu lugar, onde fiquei até o final. Orgulhoso de ficar em pé o jogo todo, aliviado de ao menos não precisar pagar ingresso. Aliás, esse é um aviso aos amigos leitores: se você estiver com a perna quebrada, não paga ingresso. Não é uma regra, mas é algo bem aceito, pelo menos aqui no Rio de Janeiro.



Nenhum comentário:

Postar um comentário